sexta-feira, junho 29, 2007

pedrinho de férias, pais a trabalhar

fim de ano lectivo. pedrinho de férias e os pais a trabalhar. não é simples resolver esta questão com qualidade. nas pausas lectivas o pedro frequenta um a.t.l. é uma instituição de que ele gosta, mas onde não sabem comunicar com ele em língua gestual. ou melhor, vão aprendendo, aos poucos, com ele. nos primeiros dias houve um pouco de confusão, com descontrolo de esfíncteres e alguma instabilidade, mas ontem e hoje as coisas já parecem ter corrido melhor. nesta instituição, há sobretudo boa vontade. quando a procurámos, no início do ano lectivo, não foi fácil encontrá-la. a maior parte dos sítios não estão minimamente preparados para acolher crianças como o nosso pedro. espaços exíguos e por vezes sobrelotados, pura má vontade e recusa em trabalhar com crianças especiais (vindas de instituições com um grande "elan" na sociedade farense), a mãedopedro encontrou de tudo. nesta instituição que o pedro frequenta, houve sobretudo abertura e capacidade para arriscar. nunca tinham trabalhado com uma criança portadora de deficiência, mas acolheram-no com bastante naturalidade. é um espaço amplo e agradável, e acho que é lá que o pedro vai aprender a correr, com os outros meninos. os outros miúdos fazem imensas perguntas, que vamos respondendo com paciência, mas no geral parece-me que aceitam o pedro bastante bem. com o seu feitio, o pedro já conquistou todos os adultos. como esta pausa lectiva é das grandes, tiveram que aprender a lidar com o standing frame, o que ocorreu sem grandes sobressaltos e manifestações de incómodo. não é a situação ideal, principalmente por causa da pouca comunicação. estamos um pouco apreensivos com a possibilidade de regressões. se com crianças sem deficiência a sociedade cada vez reclama mais o funcionamento das escolas durante mais tempo, no caso destas crianças deveria haver mais apoios. a parte boa da questão, é ter o pedro inserido num contexto de normalidade. dá-lhe estímulos diferentes e obriga-o a lidar com questões diferentes e com a sua própria diferença. temos sempre que ver o lado bom das coisas.

segunda-feira, junho 18, 2007

ilhas sociais? não obrigado!

um psicólogo que trabalha nestas áreas das crianças com deficiência e respectivas famílias disse-nos há uns tempos que as famílias com crianças portadoras de deficiência tinham tendência para se tornarem ilhas sociais. com esta expressão queria ele dizer que o facto de existir uma criança com essas características seria factor de isolamento social do todo familiar. acredito que sim, que é verdade, é difícil gerir as reacções que muitas vezes os outros, amigos ou não, têm, sendo por vezes mais fácil ficar em casa e "desligar" do mundo, correr as cortinas e não querer saber, não querer lidar com essas sensações incómodas. nada mais errado. lutar contra esse isolamento social é mais uma das "missões" que temos a nosso cargo como pais, pois o preço desse isolamento é demasiado caro, para nós, para os irmãos, para a própria criança. este fim de semana fomos a uma festa de anos de uma amiga, toda a família. embora conhecessemos alguns dos outros convidados, havia muita gente com quem estávamos a lidar pela primeira vez. como o pedro está nesta fase exuberante de exploração da sua autonomia física, não parou um momento, de início, a querer explorar aquela casa desconhecida, era impossível não se dar por ele. passada aquela fase inicial de convívio entre pessoas que não se conhecem, correu tudo optimamente. foi muito bom verificar que ele foi bem aceite por todos, conhecidos e desconhecidos, não houve daquelas reacções idiotas de coitadinho, o que é que aconteceu com o menino, nem conversas a tentar aprofundar o assunto, de pretensa compaixão, de cuscuvilhice. apesar de ser surdo, o pedro é bastante comunicativo, mesmo com estranhos. mete-se com as pessoas, tenta comunicar à sua maneira. foi isso que fez. esteve a brincar no quarto onde estavam reunidos as crianças e adolescentes, cirandou por toda a casa e, quando o sono chegou, foi dormir para a cama dos donos da casa. o serão prolongou-se e já era bastante tarde na madrugada quando regressámos a casa. tivemos que acordá-lo, agasalhá-lo e voltar para o nosso aconchego. tal como faziamos com os irmãos quando eles tinham a idade do pedro.

sábado, junho 09, 2007

alma de desportista

não tenho dúvidas de que o pedro tem alma de desportista. cada vez mais os seus programas de televisão favoritos são programas de desporto, já quase não quer saber de desenhos animados. adora um jogo de futebol, provas de natação, ténis e tudo o que sejam desportos radicais. bicicletas rodopiando pelo ar, skaters, tudo o que tenha acção. assim, não vale a pena pôr o canal panda ou o nickelodeon, o que ele quer mesmo é o eurosport ou o extreme sports channel. as tardes de desporto da rtp2 também têm o seu acordo. ao mesmo tempo, a sua performance com a bola modificou-se substancialmente. na última vez que escrevi sobre isso aqui, há uns 6 meses atrás, ainda ele só conseguia jogar à bola agarrado às costas do sofá da sala, se perdia esse apoio, caía. hoje em dia dá chutos sem qualquer apoio e vai treinando o transporte da bola com os pés enquanto vai andando. terei que incluir os paralímpicos nos planos para o futuro?