quarta-feira, agosto 29, 2007

abrir os olhos (nem que seja à força)

estamos de regresso. a primeira busca que fiz na net foi para saber como tinha acabado a volta a portugal em cadeira de rodas. fiquei contente por saber que josé lima conseguiu acabar com sucesso o seu protesto contra a discriminação dos cidadãos portadores de deficiência. anuncia-se já para o próximo ano a repetição da viagem, mas desta vez em grupo, cerca de 20 participantes. este país precisa destas coisas, infelizmente, mas ainda bem que acontecem. se os nossos concidadãos não conseguem abrir os olhos por si próprios, bem hajam os "josés limas" que lhos abrem à força.

sábado, agosto 18, 2007

agosto com pedro

o novo cartão da tvcabo dá acesso temporário a todos os canais. penso que o pedro gostará de ver o disney channel, mas ele pede-me é ciclismo. desde o tour de france que se fixou no ciclismo. se não houver ciclismo, faz-me o gesto de corrida, que é como quem diz atletismo. também não há atletismo, mas há saltos de ski em pista de relva. faz-me o gesto com a mão fechada e com o polegar esticado, um gesto comum aos gestos que os ouvintes empregam enquanto falam e que quer dizer ok!. continua fixado nos canais de desporto, só não o deixamos ver desportos de combate por razões óbvias, por vezes a violência é demasiada. não temos um gesto genérico para desporto, mas o vocabulário dele vai aumentando. pedalar para ciclismo, correr para atletismo, futebol, bola ao ar para voleibol. decididamente o desporto é uma paixão.

o pedrinho está de férias em casa desde o início do mês, eu tenho estado a trabalhar até ao feriado de dia 15, o que quer dizer que ele tem estado principalmente com a mãe. o irmão mais velho já tem a sua vida própria, trabalhou num bar também até ao feriado e depois foi acampar com amigos, a irmã esteve de visita aos primos na suíça. pedro a tempo inteiro com a mãe e agora comigo também. o rapaz está exigente e confiante. tentamos desenvolver a sua autonomia e diminuir a sua dependência, mas logo de manhã, vem a andar, descalço, desde o quarto dele até ao nosso (nova conquista). já não gatinha. não descansa enquanto não nos acorda, todo ele é energia, dormir até mais tarde nem pensar.

as pequenas hipotonias voltaram, uns dias mais outros menos. duas crises de epilepsia pelo meio, para nos relembrar que ela existe e que estes seis meses sem crises foram apenas um interregno. chegamos a recear uma nova série de crises, mas parece que não. a última foi há 12 dias, à beira de uma piscina, com a mãe e a irmã enquanto eu estava no trabalho. agora que ele anda autonomamente, receei que se as hipotonias regressassem lhe iriam prejudicar a marcha, mas parece que não. de vez em quando as pernas fraquejam, mas a vontade dele de andar supera as dificuldades. fico contente por isso.

pedrocas a tempo inteiro não é pera doce, como se costuma dizer. tudo acaba por rodar à volta dele, em função dele. estando de férias não nos apetece ser muito sistemáticos, muito regrados, mas o standing e a tala nocturna não podem faltar. os banhos de piscina também não, que a água é um excelente meio de diversão e de mobilização. embora o professor de natação não goste, vai para a água de braçadeiras pois isso dá mais liberdade a todos. começa a usar o braço direito para nadar, em alternância com o esquerdo, feito que não conseguimos desenvolver nas aulas de natação. na zona onde ele "tem pé", tiramos-lhe as braçadeiras às vezes. acima de tudo, o que importa é a brincadeira e a descontracção, o estarmos bem em família. por vezes penso que talvez pudessemos aproveitar esta nossa disponibilidade total para o estimularmos mais, mas acredito que ele e nós também temos direito a simplesmente estarmos de férias e não sentirmos a pressão da sistematização, dos horários, das obrigações.


segunda-feira vamos viajar. só nós dois, o casal, que temos direito a estarmos só os dois durante uns dias. dedicarmo-nos exclusivamente um ao outro, que a vida por vezes, no meio do reboliço e da azáfama, quase não nos deixa estar em contacto. é um acto de egoismo, poderão pensar, mas os pilares fundamentais têm que ser reforçados, pois são eles que aguentam toda a estrutura. o pedrinho e a irmã vão ficar bem entregues aos cuidados do avô paterno, vai perguntar pelos pais, mas vai continuar com a sua piscina, com os seus passeios, com a sua vida. e nós, quando regressarmos, vamos vir com as energias renovadas.

quarta-feira, agosto 01, 2007

de viana do castelo a faro

josé lima, um paraplégico de 52 anos residente em viana do castelo, iniciou hoje a sua "volta a portugal em cadeira de rodas", uma viagem de 731 km ao longo de 21 dias. uma prova de força e uma chamada de atenção para todo o povo deste país, que muito tem a aprender em matéria de cidadãos portadores de deficiência. um exemplo digno do maior respeito. a agência lusa, em notícia divulgada no dia 16 de julho fala deste homem e da sua aventura. força josé lima.

"Um paraplégico vai ligar Viana do Castelo e Faro em cadeira de rodas, numa viagem que decorrerá de 01 a 21 de Agosto e que pretende ser um "grito de protesto" contra a "discriminação" dos deficientes em Portugal.

"Estamos no Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades, mas falar de igualdade de oportunidades em Portugal é falar de uma grande treta. E é isso que eu quero denunciar com esta viagem", disse, à agência Lusa, José Lima, natural de Ponte de Lima mas residente em Viana do Castelo.

Numa cadeira adaptada com "pedais manuais" e uma espécie de caixa de velocidades, José Lima prevê efectuar o percurso em 21 etapas, percorrendo entre 35 a 40 quilómetros por dia.
José Lima já escreveu a várias câmaras municipais pedindo ajuda para as pernoitas, mas - frisa - "contam-se pelos dedos" as que já lhe responderam.

"Não faz mal. Levo comigo um saco-cama e dormirei na rua, frente às câmaras que não me derem apoio", garante o deficiente.

Com 52 anos e paraplégico desde 1997, depois de "esmagado" por um elevador que estava a reparar no Ministério das Finanças de Angola, José Lima, licenciado em electrónica industrial, diz que está desempregado há três anos e queixa-se que todas as portas se lhe fecham automaticamente, quando se apresenta numa qualquer empresa em cadeira de rodas.
"Enquanto que o contacto é meramente telefónico, as coisas parecem bem encaminhadas. Mas quando apareço na empresa em cadeira de rodas, as coisas mudam radicalmente de figura. Às vezes, parece que estão a ver um fantasma", ironiza.

José Lima frisa que este é apenas um dos aspectos da "discriminação" de que os deficientes são alvo em Portugal.

"Há mais, muitos mais. É um sem-número deles. Já reparou o que se passa, por exemplo, com os transportes? Como é que eu, por exemplo, vou à cidade de Viana de autocarro? Entro como, se os veículos não estão adaptados? E se quiser viajar de comboio, à excepção do Alfa ou do Intercidades, como entro?", questiona.

Mesmo com uma incapacidade física de 80 por cento, José Lima diz que não recebe qualquer pensão da Segurança Social, já que este organismo alega que ele não está incapacitado para o trabalho.

"É verdade. Não estou incapacitado e o que eu mais quero é trabalhar. Estou inscrito no Centro de Emprego e manifesto-me disponível para cerca de uma dezena de áreas de trabalho diferentes. O problema é que ninguém me dá trabalho", queixa-se.

Mesmo assim, e assumindo-se ser da raça "antes quebrar que torcer", José Lima montou uma minigráfica em casa, onde já editou os seus dois primeiros livros e outras obras assinadas por autores da região. "Sempre me dá para ganhar algum", refere. Com gosto pela escrita, garante que já tem na gaveta material para, pelo menos, mais dois livros, admitindo que da sua volta a Portugal em cadeira de rodas poderá também sair um bom "argumento" para mais uma obra."

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