quarta-feira, maio 14, 2008

a zanga

zanguei-me com o pedro. foi na segunda de manhã, ao pequeno almoço. os níveis da molenguice matinal do senhor pedro têm vindo, nos últimos tempos, a aumentar gradualmente. como a maior parte da crianças, não sabe o que é a pressa. para ele, o pequeno almoço pode perfeitamente durar mais de meia hora, que não há problema. mas além da molenguice, sua excelência tem vindo a ensaiar birras de não querer beber o leite, ou querer que lho dêem à boca. a lei do menor esforço. com os outros dois, quando eles ensaiavam este tipo de comportamentos, não havia problema: ála para a escola sem comeres. mas o pedro tem que tomar aquela catrefada de antiepilépticos e custa-me dá-los sem ele ter nada no estômago. segunda feira, no meio da molenguice, acabou por entornar o leite com cerelac por cima da roupa toda. camisola e calças em papa. como é que uma pessoa se passa em língua gestual???? dois berros e uma chapada. ficou de trombas, verdadeiramente chateado. mudança de roupa, preparar novo copo de leite, e o tempo a passar... lá conseguimos sair de casa, atrasadíssimos, e o pedro sempre muito cabisbaixo, a choramingar. amuo constante no trajecto casa-escola, de vez em quando um soluço, muito tristonho. quando saímos do carro, reparo que tem uma ferida no lábio. ou foi da chapada ou das tentativas de o forçar a beber o leite. chegamos à escola, ele sempre muito tristonho, conversa com a professora de como foi o fim de semana, o que fizemos, para depois ser explorado em sala de aula, o ritual de segunda feira. deixo-o e vou trabalhar. a meio da tarde a mãedopedro telefona-me e pergunta-me se eu tinha batido no pedro de manhã. repondo que sim e ela diz-me: ele contou tudo na escola, toda a gente ficou a saber. lá se foi a minha reputação de pai dedicado e paciente. apanho-o à saida da escola e no trajecto para casa continua amuado. pelo retrovisor, relembro-lhe a cena do pequeno almoço e peço-lhe desculpa por lhe ter batido. um sorriso ilumina-lhe imediatamente o rosto e pede-me um beijinho. tinhamos feito as pazes. no outro dia de manhã, a professora contou-me então que à hora de contar o fim de semana, o pedro, que normalmente dá muito pouca informação, achou que era a hora de contar o que o bruto do pai lhe tinha feito. a choramingar, pôs tudo a nú. o pai bateu, o leite derramou na roupa, ficou tudo sujo, o pai zangou-se e bateu. pode parecer trivial, mas para a escassez de informações que o pedro dá na escola, em relação ao que se passa em casa, isto é digno de registo. deve ter sido a primeira vez que ele contou uma situação com tanto pormenor. devo acrescentar que, ontem e hoje, os nossos pequenos almoços têm decorrido em perfeita paz.

domingo, maio 04, 2008

instinto e opção

tenho o maior orgulho na mãedopedro. na maneira como ela luta pelos nossos filhos, na sua capacidade de dar. às vezes, na minha condição de pai, penso que ela dá demasiado. que se preocupa demasiado com os filhos e que se esquece um bocadinho dela própria. mas isso sou eu, que não sei o que é sentir um filho a crecer dentro de nós. no fundo, fui eu que fiz dela uma mãe, ao gerarmos filhos em conjunto. amo-a profundamente não só por isso, mas muito por isso. é a nossa maior obra. a mais difícil também. a menos linear, aquela que exige que os planos sejam constantemente refeitos, repensados. a mãedopedro ama os seus (nossos) filhos com cada célula, cada fibra. por isso, porque é o seu instinto, mas também a sua opção, estou-lhe profundamente agradecido.

bom dia das mães para todas as mães que passam por aqui.