segunda-feira, junho 23, 2008

língua gestual, sim ou não

a utilidade da língua gestual nunca foi uma questão consensual. não tenho dúvidas de que a língua gestual, nas crianças pequenas surdas, desempenha um papel fundamental no desenvolvimento do simbólico e, assim, no desenvolvimento cognitivo. sem língua gestual será muito mais difícil a criança surda compreender que pessoas, coisas, acções podem ser designadas por um símbolo. actualmente o nosso sistema de ensino considera a língua gestual como a língua materna das crianças surdas e estimula a sua aprendizagem desde (ou antes de) o pré-escolar. neste contexto, a língua portuguesa escrita surge como uma segunda língua, cuja aprendizagem é fundamental para o acesso ao conhecimento mais generalizado através dos livros. pelo que me apercebo, esta ideia não é muito bem aceite por muitos surdos mais velhos que foram educados na tradição oralista e que assim conseguiram uma integração mais plena na sociedade. não tenho dúvidas de que um surdo que apenas comunique por língua gestual terá muito mais dificuldades em atingir a autonomia numa sociedade em que apenas uma pequena percentagem dos seus elementos compreendem esta forma de comunicação. por outro lado há surdos que evidenciam uma espécie de "orgulho surdo", adoptando uma postura de que não são apenas eles que têm que aprender a língua dos ouvintes, mas que também os ouvintes têm que aprender a língua dos surdos. a realidade prova o contrário. são muito poucos os ouvintes que não tenham algum familiar ou amigo surdo que se dispõem a aprender língua gestual. pela minha experiência, muitos ouvintes têm uma grande curiosidade em relação à língua gestual, mas não fazem o esforço de a aprender. isto provoca que surdos que não sejam oralistas ou sejam fracamente oralistas tenham grandes dificuldades no acesso a questões básicas da existência, como sejam repartições públicas e serviços de saúde. não se compreende que os hospitais não tenham no seu staff intérpretes de língua gestual. parece-me então que o ideal será a criança surda utilizar a língua gestual dentro da comunidade surda, mas ser preparada, na medida das suas capacidades de oralização, para comunicar com a sociedade em geral. as diferentes reacções com que me deparo, interpreto-as como diferenças no vivenciar da sua diferença.

domingo, junho 08, 2008

Ontem foi dia de futebol

Ontem, consegui abrir um parêntesis ao contínuo dar respostas às solicitações do dia a dia, ora por questões laborais ora por questões familiares, que tem sido a minha vida ao longo do mês de Maio e neste princípio do mês de Junho. Por vezes tenho vontade de sair do comboio, numa qualquer estação e ficar durante uns tempos sozinha a ver os outros comboios passar. Onde é que eu já ouvi ou li esta frase? Pois bem, ia eu dizendo, consegui abrir um parêntesis e foi tão simples como ir ao supermercado, comprar umas cervejas e uns camarões e assistir na minha casa ao espectáculo televisivo Portugal-Turquia, com o pai do Pedro, a mana do Pedro e com o Pedrinho. O Pedro, embora surdo, prestou muita atenção ao jogo de Futebol e ficou francamente contente quando Portugal conseguiu marcar os dois golos, levantando os dois braços e batendo palmas de cada vez que era marcado um golo. Por vezes a vida assume prioridades e compromissos que é imperativo parar, nem que seja por instantes e nesse sentido a nossa equipa de futebol e as outras equipas europeias, não só proporcionam um momento de evasão à família do Pedro, como também a milhares de portugueses e de europeus. Por tudo o que acabei de escrever, bem haja o campeonato europeu de futebol e que Portugal consiga chegar à final.