de viana do castelo a faro
josé lima, um paraplégico de 52 anos residente em viana do castelo, iniciou hoje a sua "volta a portugal em cadeira de rodas", uma viagem de 731 km ao longo de 21 dias. uma prova de força e uma chamada de atenção para todo o povo deste país, que muito tem a aprender em matéria de cidadãos portadores de deficiência. um exemplo digno do maior respeito. a agência lusa, em notícia divulgada no dia 16 de julho fala deste homem e da sua aventura. força josé lima.
"Um paraplégico vai ligar Viana do Castelo e Faro em cadeira de rodas, numa viagem que decorrerá de 01 a 21 de Agosto e que pretende ser um "grito de protesto" contra a "discriminação" dos deficientes em Portugal.
"Estamos no Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades, mas falar de igualdade de oportunidades em Portugal é falar de uma grande treta. E é isso que eu quero denunciar com esta viagem", disse, à agência Lusa, José Lima, natural de Ponte de Lima mas residente em Viana do Castelo.
Numa cadeira adaptada com "pedais manuais" e uma espécie de caixa de velocidades, José Lima prevê efectuar o percurso em 21 etapas, percorrendo entre 35 a 40 quilómetros por dia.
José Lima já escreveu a várias câmaras municipais pedindo ajuda para as pernoitas, mas - frisa - "contam-se pelos dedos" as que já lhe responderam.
"Não faz mal. Levo comigo um saco-cama e dormirei na rua, frente às câmaras que não me derem apoio", garante o deficiente.
Com 52 anos e paraplégico desde 1997, depois de "esmagado" por um elevador que estava a reparar no Ministério das Finanças de Angola, José Lima, licenciado em electrónica industrial, diz que está desempregado há três anos e queixa-se que todas as portas se lhe fecham automaticamente, quando se apresenta numa qualquer empresa em cadeira de rodas.
"Enquanto que o contacto é meramente telefónico, as coisas parecem bem encaminhadas. Mas quando apareço na empresa em cadeira de rodas, as coisas mudam radicalmente de figura. Às vezes, parece que estão a ver um fantasma", ironiza.
José Lima frisa que este é apenas um dos aspectos da "discriminação" de que os deficientes são alvo em Portugal.
"Há mais, muitos mais. É um sem-número deles. Já reparou o que se passa, por exemplo, com os transportes? Como é que eu, por exemplo, vou à cidade de Viana de autocarro? Entro como, se os veículos não estão adaptados? E se quiser viajar de comboio, à excepção do Alfa ou do Intercidades, como entro?", questiona.
Mesmo com uma incapacidade física de 80 por cento, José Lima diz que não recebe qualquer pensão da Segurança Social, já que este organismo alega que ele não está incapacitado para o trabalho.
"É verdade. Não estou incapacitado e o que eu mais quero é trabalhar. Estou inscrito no Centro de Emprego e manifesto-me disponível para cerca de uma dezena de áreas de trabalho diferentes. O problema é que ninguém me dá trabalho", queixa-se.
Mesmo assim, e assumindo-se ser da raça "antes quebrar que torcer", José Lima montou uma minigráfica em casa, onde já editou os seus dois primeiros livros e outras obras assinadas por autores da região. "Sempre me dá para ganhar algum", refere. Com gosto pela escrita, garante que já tem na gaveta material para, pelo menos, mais dois livros, admitindo que da sua volta a Portugal em cadeira de rodas poderá também sair um bom "argumento" para mais uma obra."
© 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.
2 comentários:
Hoje fui dar uma volta à vila com os miúdos e bem vi as dificuldades que tive em andar com a cadeirinha de passeio do Pestanas...quanto mais uma cadeira de rodas...até o próprio acesso à Segurança Social é difícil.
É preciso coragem para uma exposição pública. A verdade é que não é uma demonstração vã, tem um motivo e esse motivo é a justiça e a igualdade de direitos, nomeadamente quanto à empregabilidade. E é de justiça que se aponte o dedo porque como este caso há muitos. Felizmente alguém faz alguma coisa. Boa sorte para este projecto, que a sua palavra não chegue em vão ao país que percorre.
Enviar um comentário