segunda-feira, outubro 27, 2008

incapacidades

não foi a primeira vez, mas ir com o pedro à junta médica para avaliação da incapacidade é sempre uma experiência estranha. o objectivo são os (poucos) benifícios fiscais de que podemos usufruir e obter o selo com a cadeirinha de rodas estilizada que permite estacionar nos lugares reservados para o efeito. munidos dos relatórios médicos que enumeram os problemas do pedro, lá fomos, mãe, pedro e eu. na sala de espera, vários casos que também aguardam a sua vez. as famílias com filhos portadores de deficiência mais velhos do que o pedro (alguns já adultos) captam de imediato a nossa atenção. pai, mãe e filho, tal como nós. é inevitável projectarmo-nos no futuro e perguntarmo-nos como seremos quando o pedro tiver aquela idade, quando nós tivermos a idade daqueles pais. teremos o ar mais desgastado de alguns, ou teremos o ar mais tranquilo de outros? chega a nossa vez. entramos os 3 para o gabinete e enfrentamos a junta médica, que despacha caso após caso. fala-se em números. percentagens de incapacidade. o conceito é confuso, porque 70% de incapacidade não corresponde a 30% de capacidade. nada disso. são números, apenas, um índice qualquer que por facilidade se expressa em percentagem, tudo muito relativo. os médicos da junta são simpáticos, cordiais, mas pouco calorosos. para eles somos apenas mais uma família como tantas outras que têm que ver. e deparam-se com certeza com casos bem mais dramáticos do que o nosso. é lógico que não divulgo qual a percentagem de incapacidade que foi atribuída ao pedro desta vez, é pessoal e intransmissível. além de não ter o mínimo interesse para este relato, só iria alimentar alguns espíritos mesquinhos que rondam por aqui, como abutres à espera que a vítima fraqueje para darem mais uma bicada. incapacidades...

4 comentários:

reb disse...

É isso mesmo. Há abutres. Só se sentem bem qdo pensam que alguém está pior que eles. Adoram fingir pena, compaixãozinha da treta. Isso fá-los sentir menos medíocres.
Felizmente, há poucas pessoas dessas, mas que as há, há.

Anónimo disse...

Trabalho com números e com percentagens (trabalho em estatística) e sei o que valem as percentagens... Durante os quase dois anos de vida do meu filho ouvi várias vezes percentagens nos prognósticos dos médicos, hoje em dia não lhes dou qualquer valor. Já entendi que nessas percentagens não entra a estimulação e o amor dos pais que faz toda a diferença nos miúdos que precisam de uma ajudinha como o Pedro. Já entendi também que não é a percentagem de incapacidade (ou de capacidade) que faz das pessoas felizes ou infelizes. Por isso neste momento não ligo a percentagens, sei que os pais do pedro já entenderam isso também e isso é que é importante.

Cristina
http://blogs.clubedospais.pt/ccsantos

Mãe Sisa disse...

Abutres emocionais. É isso mesmo que sinto perante determinadas pessoas. Por causa disso também já me apeteceu privatizar o nosso blog...
As percentagens ficam para quem precisa delas!
Abraço

Maria Romeiras disse...

Resistência psicológica é um bom tag. Penso quando te leio em algumas famílias com que trabalho e que são famílias que assumiram esse estatuto de ter que se reorganizar em torno de uma situação mais esforçada que o tradicional por acidentes súbitos e na verdade encontro sempre posturas bastante depressivas. Muitas vezes são os portadores de uma condição de dependência (algumas são mesmo de alguma dependência considerável) a ter uma atitude bem mais positiva que os que os rodeiam. Essas idas às juntas médicas costumam ser temidas. É positiva a forma como continuas a explicar o desenrolar normal das rotinas, julgo que um exemplo para outros pais, para outras famílias. Espero que consigam o máximo de apoios possível! E que o Pedro continue com os seus progressos e muito boa disposição!