segunda-feira, junho 23, 2008

língua gestual, sim ou não

a utilidade da língua gestual nunca foi uma questão consensual. não tenho dúvidas de que a língua gestual, nas crianças pequenas surdas, desempenha um papel fundamental no desenvolvimento do simbólico e, assim, no desenvolvimento cognitivo. sem língua gestual será muito mais difícil a criança surda compreender que pessoas, coisas, acções podem ser designadas por um símbolo. actualmente o nosso sistema de ensino considera a língua gestual como a língua materna das crianças surdas e estimula a sua aprendizagem desde (ou antes de) o pré-escolar. neste contexto, a língua portuguesa escrita surge como uma segunda língua, cuja aprendizagem é fundamental para o acesso ao conhecimento mais generalizado através dos livros. pelo que me apercebo, esta ideia não é muito bem aceite por muitos surdos mais velhos que foram educados na tradição oralista e que assim conseguiram uma integração mais plena na sociedade. não tenho dúvidas de que um surdo que apenas comunique por língua gestual terá muito mais dificuldades em atingir a autonomia numa sociedade em que apenas uma pequena percentagem dos seus elementos compreendem esta forma de comunicação. por outro lado há surdos que evidenciam uma espécie de "orgulho surdo", adoptando uma postura de que não são apenas eles que têm que aprender a língua dos ouvintes, mas que também os ouvintes têm que aprender a língua dos surdos. a realidade prova o contrário. são muito poucos os ouvintes que não tenham algum familiar ou amigo surdo que se dispõem a aprender língua gestual. pela minha experiência, muitos ouvintes têm uma grande curiosidade em relação à língua gestual, mas não fazem o esforço de a aprender. isto provoca que surdos que não sejam oralistas ou sejam fracamente oralistas tenham grandes dificuldades no acesso a questões básicas da existência, como sejam repartições públicas e serviços de saúde. não se compreende que os hospitais não tenham no seu staff intérpretes de língua gestual. parece-me então que o ideal será a criança surda utilizar a língua gestual dentro da comunidade surda, mas ser preparada, na medida das suas capacidades de oralização, para comunicar com a sociedade em geral. as diferentes reacções com que me deparo, interpreto-as como diferenças no vivenciar da sua diferença.

33 comentários:

Grilinha disse...

O mais importante é comunicar. Com o maior nuemro de pessoas e na forma mais simples e rápida.

A oralização é uma maneira muito difundida por razões mais que óvias. Mas se não for possível, qualquer uma das maneiras é melhor do que nada.

Sim, num hospital não acho nada normal que não haja ninguém com esse tipo de formação. Ou mesmo um surdo.
Não se pensa nas minorias. Mais uma vez.

Beijo

@Memorex disse...

Infelizmente eu não concordo com a perspectiva traçada, a Lingua Gestual não é seguramente a língua materna da criança Surda.

Àlias a criança Surda de nascença é tão capaz de aprender oralizar com ajuda dos pais e terapeutas de fala, estamos numa sociedade maioritamente ouvinte, e não é toda a gente que sabe falar a lingua dos gestos.

A criança Surda está isolada em termos linguisticos e da própria linguagem na escrita, daí o insucesso escolar tornou-se tão evidente.

Ainda por cima a Ministra da Educação autenticou o decreto de lei absolutamente incrédulo, que visa retirar as crianças surdas do local onde vivem para passar a estudar numa escola de referência para deficiencia auditiva compropriedade da Lingua Gestual Portuguesa sem pensar nas profundas consequências de alunos ORALISTAS, nada sabem esta lingua.

Para complicar ainda mais as coisas, existe uma grande controvérsia pois nem todos os alunos apresentam a mesma capacidade e ritmo de aprendizagem, cada caso é peculiar a muitos outros.

Isto vai de mal a pior...

Dificuldades sempre haverá, mas este facto fortalece-nos e daí a importância da oralidade, minimiza-nos os obstáculos inerentes á sociedade. O Surdo oralista, pode entrar em contacto diariamente cuja pessoa padece de uma audição normal, ter acesso á cultura de forma indepedente sem necessitar ajuda de terceiros.

È ter a capacidade de julgar, arranjar vias concretas, é sobretudo estar em permanente comunicação com o mundo/lugares e pessoas.

A vantagem do oralismo é assombrosa, enquanto a criança surda gestualista isola-se de muitas outras pessoas só porque não sabem o idioma dos gestos, e muitas vezes o isolamento torna-se uma repercurssão ética.

Beijo
Memorex

reb disse...

Pois, venho a aperceber-me que há 2 posições distintas e talvez o melhor seja que cada um descubra ( com ajuda dos pais e terapeutas) qual o melhor caminho para a comunicação e para a integração.
No livro que estou a ler "o grito da gaivota", a autora( surda profunda) revela a felicidade que sentiu, quando, aos 7 anos, em vincennes e depois em washington, contactou com comunidades surdas e aprendeu a comunicar através da lingua gestual. Ela diz mesmo que só nessa idade compreendeu o conceito de "eu", ou os conceitos de passado/ presente e futuro. Até essa idade, julgava que não havia adultos surdos e, por isso, pensava que nunca chegaria a ser adulta. Por outro lado, pessoas como a memorex e a margarida estão completamente integradas na sociedade e exprimem-se por escrito sem qq dificuldade. Não sei como é a comunicação oral. Será que são compreendidas pelos ouvintes?

Não sentem os oralistas necessidade de usar os gestos? Têm total dominio da lingua falada? Desde que idade?
Não pretendendo entrar em campos talvez delicados, penso que todos beneficiariamos em compreender as vantagens e desvantagens dos 2 métodos. Será que para uns é mais adaptado um dos métodos e para outros o outro?

paidopedro disse...

reb, como em quase tudo, parece-me que a virtude está no meio. muitos dos surdos que eu conheço são gestualistas no meio da comunidade surda e oralistas quando têm que comunicar com a sociedade mais alargada. mas cada pessoa é um mundo. muitos surdos adultos que conheço rejeitam o implante coclear, ao passo que para a nossa amiga memorex foi um dos acontecimentos mais importantes da sua vida. são escolhas, opções que se tomam e que apenas a cada um dizem respeito.

@Memorex disse...

REB

Para avaliar estas "experiências", denonimadas como "tentativas" para as crianças Surdas na escolha de duas Linguas é dependente do contexto familiar e socio-cognitivo/económico pois as secções de habilitar a oralidade custa caro, os hospitais publicos estão sobrelotados.

Nem todos os profissionais são competentes, por outro lado existem quem costuma optar por uma postura do Biliguismo: Gestos/Oralidade.

Mas... sim digo mas, se vermos mais perto existe uma faca entre dois legumes, porque os profissionais ensinam em 1º lugar a Lingua Gestual e depois só mais tarde a Oralidade?! È uma bonita táctica para iludar as perspectivas dos pais que forçosamente escolheram a Oralidade como palco para o desenvolvimento cognitivo em toda a sua complexidade.

Actualmente faz-se muita confusão, inclusive na escrita. No português falado e escrito pronuncia-se/escreve-se: "Vamos ao Cinema hoje?"
Então como é na Lingua Gestual? Gestualiza-se dessa forma: "Hoje cinema vamos?"

Agora a questão é: onde está o verbo e a gramática na Lingua Gestual? NÃO HÀ! Não pensaram neste grande problema!!

Para alimentar a tua curiosidade, eu Surda Profunda desde os 18 meses de causa não determinada, falo, converso, tenho voz própria com certo sotaque aportuguesado.

End

reb disse...

Memorex, a minha sede de conhecimento sobre isto vem de longe. Trabalhei com alunos integrados, em educação especial, mas nunca com meninos surdos. Tenho 2 amigos especializados na deficiencia auditiva e que trabalham em núcleos que existem em escolas secundárias. Visitei APECDA há uns anos e não compreendi bem o método.
Não sabia que a língua gestual não tinha verboo???
O que acho optimo é que te sintas tão bem e tão integrada e realizada e, como diz o pai do pedro, cada pessoa faz as suas opções e o importante é que cada escolha seja sentida como a melhor!

Hoje....se me aparecesse um aluno surdo numa turma...não seria capaz de aconselhar os pais....dir-lhes-ia que talvez o ideal fossem os 2 métodos, mas punha-os em contacto com pessoas experientes...
Em tudo, na vida, nunca há um caminho único...
Admiro-te memorex, pq só pessoas grandes lutadoras conseguem superar os obstaculos da vida!!

paidopedro disse...

memorex e reb, não é verdade que não haja gramática na língua gestual portuguesa. há e tem as suas regras bem definidas. são é regras diferentes das da língua portuguesa. de certa maneira tem uma gramática mais parecida com a da língua inglesa. e também há verbos, todas as acções~são representadas por gestos. não tem é a riqueza de tempos verbais que as línguas latinas têm, uma vez que a acção é sempre representada pelo mesmo gesto. mas há futuro, há pretérito e há condicional e imperativo, basta adicionar gestos específicos que representam esses tempos verbais. a estrutura das frases é realmente diferente da estrutura das frases em língua portuguesa, mas isso também o é na língua inglesa e muitas crianças conseguem facilmente ser bilingues. todas as formadoras de língua gestual que tenho tido são excelentes oralistas, mas defendem o uso da língua gestual como sendo a sua língua natural.

paidopedro disse...

só para acrescentar que hoje em dia a habilitação para a oralidade é feita por terapeutas da fala que estão colocadas nas unidades de apoio à criança e jovem surdos, não é feita em hospitais. pelo menos é essa a realidade aqui em faro e é totalmente gratuito. o pedro tem terapia da fala duas vees por semana, mas não consegue, espero que por enquanto, articular palavras mas provavelmente devido à parlisia cerebral.

reb disse...

Era isso que eu tb pensava: que a língua gestual tinha a sua gramática. Como poderia ser possivel comunicar sem verbos?

O mais importante é a comunicação. não é? O pior deve ser o isolamento.
Se alguns comunicam só por gestos, então, por esses, devemos lutar para que a língua gestual seja reconhecida e utilizada em todas as repartições publicas e meios de comunicação( tv) e ensinada nas escolas como língua opcional.
Por que se faz tão pouco por isso?
Por que nunca se fala disso na Assembleia da republica? por que não há mais pressão?

O Pedro consegue escrever algumas palavras?

Grilinha disse...

Com tudo isto, estou com uma vontade enorme de aprender (já tinha) a lingua gestual. E vou fazê-lo. Não pelo JP, porque esse não acredito que a vá utilizar, embora fale mal...mas porque sempre quis, desde pequena, por ter um primo que adoro e que é surdo.
Falta-me o costume: Tempo. Mas hei-de fazê-lo. Um beijinho

reb disse...

A minha questão é a seguinte: se a língua gestual não é adoptada, na sociedade, como único meio de comunicação para alguns cidadãos, isto deve significar que não tem havido, por parte dos cidadãos, manifestações de pressão para que seja reconhecida.
Se a sociedade não está sensibilizada e se mantém na ignorância, ninguém faz nada por isso? Porquê? Há poucos surdos que comunicam gestualmente? Para esses, só é possivel a comunicação entre surdos?
Poderão dizer-me que o egoismo está a vários nívies e vivemos em cidades cheias de barreiras arquitectonicas, que dificultam muito a mobilidade de pessoas em cadeiras de rodas. É verdade. Mas ainda assim, notam-se algumas ( pequenas) melhorias. As novas escolas, por exemplo, têm rampas e elevadores.
Alguém pressionou.
Em relação a surdos gestualistas, não vejo progressos nenhuns. Na tv, poucos são os programas que têm tradutor gestual. Aliás, parece-me que havia alguns que deixaram de existir.
Uma coisa que sempre me fez impressão foi não haver desenhos animados para crianças surdas. Não era possível por alguns bonecos a falarem com as mãos?

Anónimo disse...

REB

Parece-me estar particularmente sensível a esta questão do surdo e da sua comunuicação pessoal/familiar, institucional e social, sensível a nível particular e hipoteticamente a nível familiar.
A orientação educativa de uma criança surda com base na lingua gestual ou oral/língua portuguesa depende unicamente da opção dos pais, nos países em que é possível fazer essa opção (não é o caso do nosso).
Há alguns aspectos a considerar.
a) A criança fica totalmente dependente da opção dos pais, e essa opção será decisiva no seu percurso de vida
b) Qual a melhor solução? aquela que os pais em seu entender entendem ser a melhor, tendo em atenção as condições do meio em que a família está inserida e ainda outras… a decisão dos pais é a decisão dos pais venha ela a ser ou não posta em causa pelas instituições e sociedade, ou até mesmo pelo próprio surdo já jovem ou adulto.
c) Claro que a opção do desenvolvimento da oralidade numa criança é muito mais exigente, também para as famílias. Um trabalho aturado, persistente e intensivo que resulta, mas nem todas as famíias têm condições para fazê-lo.
d) É clara a minha posição favorável à oralidade – lingua portuguesa, em primeiro, lingua Gestual em segundo. São evidentes as vantagens da oralização, mas há outros factores em jogo, que podem favorecer a sua aquisição, ou não.
e) A sociedade, a sociedade… (ah, ah…) se o cidadão não entende bem o surdo oralizado, como cidadão e generoso que é, faz um esforço para o entender, aliando sempre o gesto natural e a expressão corporal, no tal conluio da comunicação humana.
f) Porque hão-de ser sempre as crianças e adultos portadores de deficiências a esforçar-se até ao limite para adaptar-se aos outros/sociedade, e não esta a fazer também o esforço que lhe compete?...
g) A lingua gestual portuguesa já foi reconhecida como lingua de interesse public, pela assembleia da républica, há uns anos, não sei precisar quando (neste momento)
h) A TVI tem sido uma estação que muito avançou nesse campo, pois tem uma jornalista com um filho surdo (Paula Magalhães) parece que agora está na prateleira, logo há menos iniciativas
i) A RTP1 também tem avançado nesse sentido, enquanto serviço publico: legendagem, etc.
j) Também existem já programas infantis acompanhados com lingua gestual.
E existe também uma infinidade de questões a debater e muito a melhorar, mas um blogue não concede essa amplitude e eficácia.
E por fim, estaremos nós verdadeiramente empenhadios em melhorar as coisas? Ou…
Atenciosamente, no ciberespaço na condição de anónima, condição que o mesmo estimula e permite.

reb disse...

Cara anónima, mto obrgada pelos esclarecimentos, e mto obrigada tb aos pais do pedro, por permitirem que se debatam estes temas no seu blog. Começava a pensar que havia um tabu à volta da deficiência auditiva, pelo facto de existirem 2 posições que me parecem antagónicas ( a dos oralistas e a dos gestualistas)
Não tenho familiares nem amigos surdos, mas sou professora de português e as questões da comunicação e pensamento interessam-me muito. Quando descobri este blog e, a partir dele vim a encontrar outros, a minha sede de conhecimento sobre esta mate´ria aumentou. De facto, sempre me interessei, mas nunca tinha lido depoimentos de pessoas surdas. Por sugestão do pai do pedro, li o livro "o grito da gaivota" e fiquei com vontade de aprender mais. Tenho conversado com 2 jovens surdas oralistas que muito me têm ensinado. Hoje descobri outro blog, o silence box ( já fechado) e devorei tudo o que ela escreveu. Aliás, os textos são de uma tal sensibilidade e verdade que fiquei sem palavras...

Sempre pensei que as palavras servem para mentir...e talvez por isso ache apaixonante o mundo dos surdos: eles lêem as nossas expressões melhor que ninguém. Penso que, nessa comunicação, a mentira fica de fora.

Qto às legendas, não me referi a isso, pq pensava nos surdos gestualistas que, sobretudo em crianças, podem ter ainda dificuldades na leitura.
Ainda assim, acho que há muito por fazer nesta área...e, se fosse possivel que todos os surdos fossem bilingues, e não houvesse preconceitos, provavelmente lutariam mais pela sensibilização da sociedade às suas necessidades específicas.
Mas concordo consigo, os pais é que decidem, pq melhor que ninguém, são eles quem sabe o que é melhor para os filhos ( desde que sejam pessoas informadas)

Margarida B. disse...

Vim ontem saber de novidades do vosso filhote, para descomprimir um pouco nos estudos de IHE, decerto uma área familiar do paidopedro :)
Ainda mais o post mais recente é sobre um grande problema da comunidade surda portuguesa e madeirense, infelizmente.
Amanhã ou o mais tardar, mostrarei a minha posição, pk tenho exame. Não é demais salientar que, infelizmente, a maioria dos surdos não respeita as opções individuais de cada um, dando azo a galhardetes e mal-entendidos, que magoam os membros da comunidade. Eu, por exemplo, nunca fui tão insultada por muitos deles, só por ter um ponto de vista diferente, sempre respeitando o deles. Aproveito para dizer ao anónimo, que subscrevo inteiramente as suas palavras .
Deixo-lhe o recado: espreite o Surdez em Portugal, terei muito gosto em tê-lo como leitor!
Os melhores cumprimentos!!!

Anónimo disse...

leitora... uma mulher apostada na presença e força femininas, obg

reb disse...

Eu sou testemunha dos insultos que a margarida tem que ler no blog dela. Tudo aquilo me fez a maior confusão e tenho uma grande pena que, em todas as áreas da vida, haja pessoas mesquinhas e intolerantes. Se houvesse uma maior união, provavelmente era possivel fazer mais pela integração de pessoas surdas na comunidade...

reb disse...

Mantenho uma dúvida que talvez me possam esclarecer:

Uma criança ouvinte, aprende a falar por volta dos 2 anos e a escrever por volta dos 6.
Como será com os surdos oralistas? Como podem comunicar com palavras se não ouvem? Será que têm, desde o início o suporte da língua escrita?
Talvez seja uma questão ridícula, mas sozinha não consigo encontrar resposta para isto...
Desculpem-me se já estão fartos de me esclarecer dúvidas :)

Anónimo disse...

aprendem à base de imagens e palavras escritas como as outras crianças, e aprendem ao mesmo tempo a fazer leitura labial...

há crianças surdas que começam a escrever palavras 6/7 anos, e de um modo geral aos 8 já escrevem algumas palavras e frases curtas que estão relacionadas com o seu quotidiano familiar e social..

de um modo geral atrasam um pouco a escolaridade relativamente aos ouvintes, todavia depende de cada caso... o suporte visual é essencial, sempre acompanhado com as palavras, as frases, os conceitos e assim sucessivamente...

hoje com as novas tecnologias, penso que há um sem número de possibilidades... haja vontade, formação e imaginação...

as crianças surdas também simbolizam, embora de um modo geral digam que não. era uma vez uma criança surda na vida real, que um dia ao estar perante uma salada de tomate e pimentos, disse: Benfica e Sporting, e ainda a bandeira nacional. de tempo em vez lá simulava a pistola com uma banana, etc.

mas como você disse o importante é a comunicação... muitos ouvintes falam e só dizem "chatices" e banalidades... e não pretendem ou não são capazes de comunicar.. um surdo pode comunicar a um nível bastante profundo, criativo e satisfatório...

aliás uma das grandes chagas da sociedade de informação é a ausência e incapacidade de comunicar... os surdos comunicam a seu modo, sejam oralistas ou gestualistas...

Anónimo disse...

aprendem à base de imagens e palavras escritas como as outras crianças, e aprendem ao mesmo tempo a fazer leitura labial...

há crianças surdas que começam a escrever palavras 6/7 anos, e de um modo geral aos 8 já escrevem algumas palavras e frases curtas que estão relacionadas com o seu quotidiano familiar e social..

de um modo geral atrasam um pouco a escolaridade relativamente aos ouvintes, todavia depende de cada caso... o suporte visual é essencial, sempre acompanhado com as palavras, as frases, os conceitos e assim sucessivamente...

hoje com as novas tecnologias, penso que há um sem número de possibilidades... haja vontade, formação e imaginação...

as crianças surdas também simbolizam, embora de um modo geral digam que não. era uma vez uma criança surda na vida real, que um dia ao estar perante uma salada de tomate e pimentos, disse: Benfica e Sporting, e ainda a bandeira nacional. de tempo em vez lá simulava a pistola com uma banana, etc.

mas como você disse o importante é a comunicação... muitos ouvintes falam e só dizem "chatices" e banalidades... e não pretendem ou não são capazes de comunicar.. um surdo pode comunicar a um nível bastante profundo, criativo e satisfatório...

aliás uma das grandes chagas da sociedade de informação é a ausência e incapacidade de comunicar... os surdos comunicam a seu modo, sejam oralistas ou gestualistas...

@Memorex disse...

Ora bem Reb, já é reconhecida como uma máquina de fazer perguntas todavia temos sempre a alegria em lhe explicar, há um aspecto pertinente que terá de ter em conta: cada caso é um caso repleto de experiências únicas.

Irei recapitular, existem etimologias a respeito da diversidade da própria Surdez, seja um surdo de nascença, ou ainda numa idade precoce a audição foi sendo cada vez mais agravada, existem sinais evidentes: ausência vocal, não reage aos sons, usa-se muito a linguagem corporal, aponta os dedos indicadores em objectos estéticos/coloridos/formas onde por norma instintivamente a criança surda tem uma certa afinidade, pois estimula o córtex visual. Para a criança surda a visão é um dos sentidos mais destacados, que a liga a este mundo.

Mal os pais vêem que algo está errado, que fazem? Marcam uma consulta de urgência, desabafam situações bizarras e determinados comportamentos fora do padrão da faixa etária, por fim o pediatra começa a examinar, anotam exames por realizar.

Depois vem os resultados, e a notícia cai-lhes que nem uma bomba, primeiro perguntam “porquê?”, culpam a si próprios por a criança não ouvir, é ai que surgem os especialistas e recomenda o uso das próteses auditivas.

Começa a fase de adaptação dos sons, a maioria das crianças surdas rejeitam-nas veemente, berram em plenos pulmões por muitos motivos: desconforto do molde, ou nunca antes escutaram determinado ruído.

Durante todo esse processo, os pais procuram o máximo partido de informações, quer na internet, quer com médicos e profissionais mas nada melhor ter primeiros contactos de pais com crianças surdas, assimilando a construção de uma matriz no acto de educar uma criança.

Mais tarde, brota a possibilidade da escolha de duas línguas: Oralidade ou Lingua Gestual Portuguesa, conforme o contexto/ambiente familiar, são opções e identidade de uma família entre si.

No meu caso, ensurdeci aos 18 meses, já pronunciava certas palavras, após a perda gritava muito, tentava fazer com que o som chegasse aos meus ouvidos, depois usei próteses auditivas e pelo contrário não os recusei, nunca. Ouvia qualquer coisa com elas.

Rapidamente fui inserida na Terapia de fala enquanto possuía resíduos auditivos, antes de chegar a Surdez Profunda, é necessário repetir certas palavras, fixar os eixos da boca, o movimento, a posição da língua e sobretudo sentir as cordas vocais do locutor.

Isto é, experimenta colocares a tua mão, junto a garganta, qual é a primeira coisa que te ocorre em mente? Vibração, intensidade e ritmo. As primeiras palavras ditas são simples, no mínimo duas sílabas com suporte a imagens (infogramas, desenhos, fotografias), cada vez que a criança Surda for aperfeiçoando a sua capacidade/agilidade/ intangibilidade da fala, vai amadurecendo com muito treino, persistência e sobretudo amor.

Em pequenina, apontava muito os objectos, todavia a minha mãe não me dava, só se eu dizer determinada palavra. E aos 3 anos de idade tive o primeiro contacto com as letras (vogais) e números até 10.

Faz-se com amor!! Os pais são acima de tudo melhores terapeutas de fala.

Já vai longo, vou descansar, daqui nada fico com galos nos dedos.

Beijinho.
Memorex

reb disse...

Muito obrigada anónima e memorex pelos esclarecimentos. Do que li percebi que, desde muito pequena a criança deve associar palavras a imagens, ou seja, tudo tem que estar presente, certo?
Como se dá o salto para a estrutura da língua? Como chega a criança a dizer: quero comer um gelado? isso só se faz qdo se introduz a escrita, não é verdade? Mas a escrita, em crianças ouvintes começa muitos depois da oralidade. Em crianças surdas aparece mais cedo?

Assisti um dia a treinos na APECDA. Vi as crianças com as suas mãozinhas na garganta do terapeuta. Mais uma dúvida, que aliás li no blog da silence box: como se distingue entre: mata/ bata/ pata? Parece-me que em termos de aparelho vocal a diferença é mínima...

memorex, estou a fazer de ti minha professora, sorry....mas olha, se me aparecer uma criança surda nas aulas ( já tive 2 severas) estarei melhor informada :)
obrigada!

reb disse...

Sabem o que eu acho que seria interessante: haver um debate sem agressões entre pessoas que começaram a comunicar por gestos e pessoas que começaram por palavras.
Se houvesse tolerância entre ambas as partes, talvez fosse possivel avançar-se muito mais na defesa dos direitos de pessoas surdas. O problema que tenho verificado no blog da margarida é que, mal ela escreve qualquer coisa, aparecem uma série de outros surdos a inveja´-la por estar bem e a achá-la uma "desnaturada" da comunidade surda...
Que pena!
Em vez da inter-ajuda que seria normal, degladiam-se...

reb disse...

Hoje li no jornal informação sobre integração de crianças surdas ( oralistas ou bilingues) no proximo ano lectivo.
Embora duvide que se venha a concretizar em grande escala, esta é uma notícia boa e que vem, seguramente, de estudos e pressões feitas pelos pais dessas crianças.
Noticia no blog da margarida.

Anónimo disse...

...estudos que não foram pensados nem adaptados às necessidades das crianças, mas essencialmente às dos pais e dos professores...

@Memorex disse...

Reb

Quanto aos insultos das quais a Margarida foi confrontada no seu blog, vai durar...

Não será a primeira e ultima vez, existe em redor um gueto omnipresente da própria cultura, a negação de ouvir o próximo e pior que a Surdez é a santa imperícia e ausência do diálogo.



Caro anónimo, porque não dá a cara? Vejo-o/a bastante interessado/a nesta demanda linear á Surdez.

reb disse...

Parece-me que por trás desses insultos, estão ressentimentos e invejas...
Uma pena! como dizia o paidopedro:
"uma comunidade faz-se forte pela pluralidade"...

Anónimo disse...

E acha que eles estão abertos à pluralidade de ideias?

Anónimo disse...

Ser anónimo(a) ou usar um "nickname" corresponde ao mesmo, a nível do ciberespaço. não vejo o rosto da "memorex"(?) nem da "reb"(?)...
aqui não há "rostos, há ideias e opiniões... as boas ou más intenções fluem no ciberespaço, como no quotidiano real... é assim o ser humano, no entanto muitos de nós nos congratulamos pela existência do ciberespaço, onde de facto não existem corpos em carne, sangue e osso, mas apenas fluxos, imaterialidades...
sinta quem sabe sentir...

reb disse...

Nesse aspecto estou de acordo contigo, usar um nick ou manter o anonimato não são coisas mto diferentes. E penso que não vem daí mal ao mundo, desde que as pessoas não se sirvam dessa condição para insultarem ou serem indelicadas.
Mas já agora, cara anónima, podes explicar-me pq razão os surdos não estão abertos à pluralidades de ideias, métodos.. ?
Que força podem ter perante outras comunidades, nomeadamente a dos ouvintes que pouca informação têm sobre o assunto, se gastam as suas energias a degladiarem-se? Não seria melhor unirem esforços e passarem uma mensagem de tolerância na reivindicação dos seus direitos relativamente à integração social?

@Memorex disse...

Não há "rosto" mas há palavras intemporais, sentidas e cruas que tocam no fundo da alma.

Cada um decide em ser verdadeiro ou falso, a quem procure um refúgio do sidrome 'stress' no ciberespaço, relatar um pouco as suas vidas e experiências.

Nada é eterno, senão as recordações, no entanto a amizade virtual flui se deixarmos, por minima confiança que haja.

O desconhecido é tentador, mas passar dao virtual para a realidade é possível, hoje elas florem a minha vida.

São opções.

Anónimo disse...

Ok. Memorex. D´acordo,
bjs.

reb, concordo contigo.... mas aprendi a não julgar e a tolerar os outros...tolerância ...tolerância, uma conquista infinita....note-se que eu não sou surda...não sei como agiria perante a intolerância, tanta incompreensão e a exclusão disfarçada a espreitar por todos os lados...
não conheço a comunidade surda assim delimitada como comunidade...defendo a integração total. conheço pessoas e jovens surdos, por vezes são pessoas complexas, mas eu também sou, e ouço o que gosto (muito pouco) e o que não gosto, etc.
até breve, bjinhos para todas e todos

Anónimo disse...

Estou muito cansada desta ignorância toda, vai tudo dar ao mesmo... Sou surda profunda de nascença e a minha língua materna é a Língua Portuguesa e não a Língua Gestual. Estou ao lado da memorex, cresci e estudei no mundo ouvinte, fiz exames iguais aos dos ouvintes e obtive excelentes resultados.Fui estimulada a falar oralmente e a fazer a leitura labial desde muito cedo, graças aos meus pais, à terapia de fala e a muitas horas de estudo. Aprendi depois aos 18 anos a Lingua gestual e fiquei absolutamente desiludida... A Lingua Gestual prejudica gravemente a Lingua Portuguesa porque a Lingua Gestual é visual, quase mimica em que não se vê as palavras, ou seja, não se vê as sílabas de cada palavra... A maioria de surdos gestualistas tem imensas dificuldades de compreender a Língua escrita, o vocabulário deles é muito limitado! Como toda a gente reconhece, a Lingua Portuguesa é a porta para todas as informações e inclusive para autonomia! Acho muito triste e revoltante, até mesmo vergonhoso, em relação ao facto de LG ser agora obrigatória nas escolas... Há cued speech e ninguém se dá ao trabalho de averiguar a existência e a importancia desta técnica (basta fazer pesquisa na internet e ver como está a ser uma grande revolução a nível internacional!), é a solução mais acertada para a verdadeira integração e inteira evolução de surdos na sociedade ouvinte tanto a nivel profissional como social!
eu e a memorex somos verdadeiros exemplos e no entanto quase ninguém nos quer ouvir ou acreditar... e ninguém quer saber do cued speech enquanto esta solução está mesmo à frente do vosso nariz! foi criada na década 60 do século XX nos EUA e já se espalhou, menos Portugal! uma vergonha, francamente!

Eduarda Paiva disse...

Olá, boa noite!

Comecei este ano a aprender Língua Gestual Portuguesa na Escola Superior de Educação do Porto.
Numa aula de informática tive que criar um blog sobre Língua Gestual Portuguesa e tivemos que colocar vídeos nossos. Por isso, quem quiser aprender as coisas mais “básicas” da Língua Gestual Portuguesa, pode acompanhar o meu blog.
Tentarei tirar dúvidas e dizer alguma palavra que queiram aprender. Caso não saiba pergunto ao meu docente. ;)

Beijinhos
* . *

Eduarda Paiva

http://olharemsilencio.blogs.sapo.pt
“Olhos que Ouvem & Mãos que Falam”