ao sabor do pensamento
esta fotografia tem já cinco anos. gosto particularmente dela, porque temos um ar de vencedores, como se tivessemos acabado de conquistar um castelo. gosto de olhar para a nossa família e pensar nela como uma família de vitórias, apesar de todos os problemas e de todas as tarefas, desafios e por vezes conflitos que enfrentamos no dia-a-dia.
foi com esta foto que encerrei uma comunicação que fiz, também há cinco anos, numa reunião organizada pela a.p.p.c. faro. relativamente habituado a falar em público e a ministrar formação, esta foi a palestra mais difícil que alguma vez fiz. fui falar como pai de uma criança com paralisia cerebral. expôr as nossas inseguranças e os nossos receios, medos, sentimentos mais conturbados e difíceis de assumir, falar das insuficiências do sistema, da falta de apoio e da falta de preparação de alguns profissionais, salientar os pontos bons e os pontos maus desta vivência, perante uma plateia de centenas de pais e profissionais, não foi nada fácil. pelos vistos fui eficaz, a julgar pelo grande aplauso que recebi no fim, mas não me consigo esquecer dos sentimentos contraditórios que por mim passavam enquanto ouvia as palmas. satisfeito por ter cumprido os objectivos a que me tinha proposto quando aceitei o desafio, mas lembro-me de me apetecer sumir ou acordar e verificar que tudo aquilo não passava de um sonho.
passaram cinco anos, já não me apetece sumir ou acordar de um desejado sonho. este blog tornou-se um veículo de comunicação bem mais suave e intimista do que aquela palestra, que duvido muito se volte a repetir. quando o criei, foi também com a intenção de postar informação científica que ajudasse outros pais com um percurso paralelo, mais no início da caminhada. não tenho cumprido esse objectivo. em vez disso tornou-se quase num diário. há tanta coisa para falar ainda, controlo de esfíncteres, desenvolvimento cognitivo, aprofundar a questão da surdez, recordar episódios marcantes dos primeiros tempos, um sem número de questões que, na minha mania de perfeição, acho que deviam caber num blog como este. no entanto, a maior parte das vezes, quando tenho vontade de postar, prendo-me com pequenos episódios, com os progressos e os acidentes de percurso do pedro. divago.
vem tudo isto a propósito do rumo deste blog. por vezes pergunto-me o que vêm as pessoas que nos visitam, mais de 20 por dia, buscar aqui. curiosidade tipo telenovela? interesse pela temática? afinidades com as suas próprias situações? aqui há tempos li num blog semelhante, já não me lembro qual, comentários de visitantes que diziam que estes blogs não deviam existir, que são apenas maneiras das pessoas ultrapassarem as suas frustrações por terem filhos deficientes e que não deveriam expôr essas situações em público. fiquei chocado, obviamente. pensei se já teria havido algum visitante incauto que tivesse sentido o mesmo ao ler os posts deste blog e não tivesse tido coragem para o dizer.
parece-me que isto hoje saiu um pouco sem nexo, se calhar o melhor é parar por aqui...
9 comentários:
Bem, eu comecei o meu com o intuito de registar progressos e poder chegar a outros pais com situações semelhantes poder mostrar uma realidade diferente,mas bonita na mesma. Muito honestamente, opiniões são como os narizes, cada qual tem a sua. frustrações todos temos...e as minhas maiores não têm nada a ver com o meu filho !!!E nem falo delas no blog...tanta coisa diária, problemas vulgarissimos no trabalho, os quilinhos que ganho e que não consigo disciplinar para perder...uma montanha de frustrações estúpidas e muito mais perturbantes que o meu filho. O meu filho é uma criança como qualquer outra...e temos uma história bonita (eu acho, pronto !!!)...quem não goste, não entre, não visite e muito menos comente...quero lá saber ! Faz exactamente o que te faz sentir bem...e o resto é conversa.
P.S: Não levei nada a mal o teu comentário...de facto era mais agradável pensar que era passageiro, mas olha...há miúdos que nem conseguem dormir como deve ser com 6 ou 7 anos ...acho que sobrevivemos...com algumas olheiras , mas sobrevivemos. Beijokas
Eu conheci o vosso blog através da Grilinha e confesso que venho aqui com grande assiduidade! Porquê? Principalmente por uma grande curiosidade, não tipo novela (nem gosto de novelas!!), mas sim pela temática, porque pretendo ter conhecimento da vossa realidade que é semelhante à de muitas outras famílias. Porque só conhecendo esta , assim como outras (muitas)realidades, poderemos ser melhores, connosco próprios e com quem nos rodeia. Porque sou mãe e não sei o meu dia de amanhã. Defendo que ter conhecimento é ter um "poder" imenso. Muitas vezes, as pessoas reagem mal, porque não conhecem, porque têm ideias erradamente pré-concebidas, porque por vezes nem se predispõem a refletir sobre o mundo que as rodeia.
Confesso que me agrada muito ler o vosso blog, vibro com as vossas vitórias, entristeço-me com as vossas dificuldades e principalmente com as dificuldades que outros teimam em vos sobrecarregar.
Continuem a relatar os pequenos episódios,os grandes , os assim-assim...enfim os que quiserem. Quem não gosta, pois tem bom remédio...que todos os problemas da vida fossem este!!
um abraço grande para toda a família,
peço desculpa por este testamento, ;-)
Ana (www.nascerprematuro.org)
Vim ao vosso blog através do da Grilinha....venho pq tenho uma situação identica e gosto de "saber" as vossas Vitorias ...pq tambem as sinto c/o meu caso ,à situações que gostamos de partilhar com quem tem uma situação parecida com a nossa (ás vezes preferimos falar com outros pais nas mm situações do que com médicos
) ....COntinue a escrever ...
Jokitas
Carla
Também conheci o vossos blog através da grilinha...
Acho que quem não gostar, que não se dê ao trabalho de vir. Não queremos pena. Queremos apenas mostrar que a felicidade existe e ajudar outros a perceber o mesmo.
Sigo a tua história, porque a tua, tal como a minha, são histórias de coragem, de amor, de aprendizagem, de partilha e união.
E derepende já nos sentimos parte destas histórias, já pensamos todos nestes meninos... queremos saber como estão uns e outros. Apoiamo-nos enquanto pais, enquanto lutadores.
E se calhar, ajudamos alguém... alguém que pode estar a começar os nossos caminhos e a que certamente todos os nossos testemunhos irão reconfortar
beijinhos
Em 1º lugar quer deixar aqui, publicamente, os meus parabens, ao Pai do Pedro, á Mãe do Pedro, ao Pedro e restante familia.
Em 2º Lugar os tipos que dizem que estes blogs não deviam existir, eles deveriam é ter uma vida frustada em todos os sentifodos.
Em 3º lugar, deixo aqui uma força, para continuarem com as vossas vitórias. Compreendo que cada dia seja uma batalha e no fim é uma vitória.
Em 4º lugar, gosto do vosso blog, gosto das vossas historia, de tudo. E vou continuar a vir cá.
Abraço.Pedro
Hum....temos aqui um grupinho coeso...e sabes que mais ? Estas pessoas que aqui deixaram estes comentários, para mim, cada uma vale por mais de 20 dos outros que falas aí no post...porque são pessoas com beleza interior e vontade de partilhar emoções e ajudar. Um beijo à familia do Pedro
meus amigos, escusado será dizer que os vossos comentários são um óptimo bálsamo para certas agruras com que temos que lidar. claro que os outros, que felizmente nunca se manifestaram por aqui, não interessam, são cartas fora do baralho.
beijos e abraços
Cartas fora do baralho parece-me uma boa definição... Ter a coragem de partilhar experiências e despir-se de preconceitos e medos parece-me digno e importante. Todas as experiências, sentimentos e vivências que aqui são transmitidos são concretos e podem ser muito fortes para quem precise ou aprecie humildemente conhecer melhor a vida real, que gostamos muito de viver num mundo idealizado. Humanizar e ser sincero, palavra de ordem. Gosto muito de vir aqui para aprender. Ponto. E abraço a quem tem a coragem de ensinar.
maria, quem sou eu para ensinar... sou um eterno aprendiz da vida. partilhar sim, é importante, por vezes é apenas um desabafo. aprendemos todos uns com os outros, isso é verdade, também aprendo contigo e com todos os que deixam aqui dicas ou apenas umas palavras de apoio ou um afago, que mesmo com esta rede de fios e electrónica pelo meio, por vezes sabe melhor e representa mais do que aqueles com quem partilho fisicamente o meu dia-a-dia no trabalho ou noutros contextos. 1 beijo
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