quarta-feira, setembro 19, 2007

estamos internados

post escrito num portátil, à cabaceira do pedro no hospital. o pedro dormita a meu lado, depois do dia difícil que passou. ontem depois de acabar o tratamento com o novo antiepiléptico foi dormir a casa, mas quando fez hoje o novo e.e.g. não havia melhoras. já desconfiava, porque as hipotonias manifestaram-se durante a manhã. clinicamente, estava em estado de mal epiléptico, fazendo crises umas atrás das outras. a neuropediatra decidiu ser mais radical e avançar com uma terapêutica mais agressiva, fenitoína, que arrumou completamente com ele durante algumas horas. um estado confusional, agitação psicomotora, depois vómitos. no meio da confusão, uma crise daquelas clássicas, com convulsões. enfim, estamos internados na pediatria, amanhã haverá novo e.e.g., depois logo se verá. custa-me vê-lo nestas fases. custa-me também que o vejam nestas fases, mesmo os profissionais de saúde, porque o pedro não é isto. custa-me que nos façam perguntas do tipo se ele usa sempre fralda ou se consegue tomar um medicamento por uma colher de plástico sem a morder. a mãe do pedro responde logo que ele é um menino como os outros e que faz o mesmo que os outros.
estar aqui, remete-me inconscientemente para os outros internamentos do pedro. a operação em lisboa, as outras descompensações da epilepsia, o primeiro internamento na unidade de cuidados intensivos. já vamos tendo alguma experiência nestas andanças. quando a neuropediatra me propôs o internamento, muito honestamente eu não queria. nem sei bem explicar porquê, mas resisto ao máximo quando se fala em internar o pedro. deve ser esta minha teimosia em que a vida com ele seja o mais normal possível. preferia tê-lo levado para casa e voltar com ele logo de manhã, mas perante as evidências de que se fosse necessário administrar mais alguma coisa por via venosa amanhã ele teria que ser picado de novo, lá cedi. e ainda bem, porque de qualquer maneira ele teria ficado cá por causa dos vómitos. pelos vistos a fenitoína é bem agressiva e provoca alguns efeitos secundários. só espero que faça o efeito desejado, porque não há garantias. aliás, na vida com o pedro, nunca há garantias. se calhar nunca há e a vida é mesmo assim... mas sem me querer queixar ou armar em vítima, isto é um viver sem rede, estar permanentemente disponível para, de um momento para o outro, alterar todas as rotinas, largar tudo e entregar-me a ele, ficar disponível para ele enquanto ele precisar de mim. é o amor que lhe tenho que me dá esta força de entrega incondicional, com naturalidade e sem pensar duas vezes. sei que no meu trabalho precisam de mim, que o resto da família precisa de mim, mas valores mais altos se levantam, para utilizar um lugar comum. também não é nada fácil para a mãe do pedro continuar a trabalhar enquanto nós estamos aqui, não sei qual das posições é mais difícil. mas como eu sou do meio, tenho uma visão técnica da coisa (embora por vezes não consiga pôr o meu olhar profissional a funcionar) e tenho mais estofo e sangue frio nos momentos mais difíceis, normalmente sou eu que avanço.
este post está muito caótico, mas foi escrito ao sabor do pensamento. e nestas alturas o pensamento voa veloz. por vezes quase que é difícil agarrar as palavras e registá-las a crú. espero que ao ler estas linhas, principalmente quem não tem crianças com problemas maiores do que as crianças têm normalmente, reflitam sobre a relatividade da vida e valorizem aquilo que têm. que não se desgastem com problemas menores, como se a vida fosse suposta ser perfeita.

5 comentários:

@Memorex disse...

Muita mas MUITA FORÇA PARA VOCÊS, PARA A FAMILIA DO PEDRO em ESPECIAL o PRÒPRIO PEDRO!

ELE sim é um VERDADEIRO CAMPEÃO, que luta e sobrevive ás desorientações, e que agarra a vida pelas mãos, e sabe no fundo que a presença dos PAIS DÃO-LHE MUITO AMOR e INCENTIVO!

QUE as MELHORAS SURGEM rapidamente para dar descanso merecido a este CAMPEÃO, contudo, que recupere e mostre o seu verdadeiro sorrisso na sua aparente normalidade.

Muitos abraços, muitos mimos e muita FORÇA!

Anónimo disse...

Muita força para vocês. Espero que esse medicamento faça o efeito pertendido.

Maguy+Gu+Raul

Anónimo disse...

Ufa...tive de respirar fundo no final do seu post! Estou para aqui com um nó...
Desejo...desejo muito, mas muito que o Pedrocas fique bem e depressa!
Desejo também que a tranquilidade volte para os vossos corações!
um abraço para todos vós,
Ana (www.nascerprematuro.org)

Anónimo disse...

"espero que ao ler estas linhas, principalmente quem não tem crianças com problemas maiores do que as crianças têm normalmente, reflitam sobre a relatividade da vida e valorizem aquilo que têm. que não se desgastem com problemas menores, como se a vida fosse suposta ser perfeita."

Reflictirei, sem sombra de dúvidas, nesta frase que deixa no seu post de hoje, que é triste... Mas cheio de lição de vida para nós, "vulgares" que até, afinal, nem imaginamos o que é viver agarrado a um problema...

Saio daqui a pensar no Pedro.
Deixo muita força aos pais.
E envio um beijo doce ao pequeno Pedro.

Com carinho e gratidão pela forma como me fez reflectir neste momento,

teresa pintor (portal junior)

Grilinha disse...

Amigo...a vida é mesmo assim como tu dizes, para TODOS os pais...
Os nossos só são casos mais óbvios, mas não há nenhum pai que saiba o que acontecerá AMANHÃ !
As melhoras do Pedrinho. Que a rotina volte rápido. Um grande beijinho.