quarta-feira, janeiro 03, 2007

cadeiras

as cadeiras são a primeira evidência para o exterior de que algo diferente se passa com uma criança. abandonada a alcofa, quando chega a hora de mudar para a cadeira de bebé, nós, pais, somos logo instruídos de que as normais cadeiras não servem para os nossos meninos. apresentam-nos uns adaptadores mais ou menos rígidos, indispensáveis para manter posturas correctas, e é assim munidos que começamos a enfrentar os olhares e os comentários em surdina quando nos deslocamos com os nossos filhos. foi assim com o pedro, penso que será assim na maior parte dos casos. depois, eles crescem, e surgem as primeiras cadeiras próprias para crianças com paralisia cerebral. o pedro usou uma, por sinal esteticamente bonita, até literalmente se desfazer com o seu peso. ainda não era uma cadeira de rodas, daquelas que o próprio maneja com os braços, mas era uma cadeira completamente apetrechada com cintos e mais cintos e mecanismos de ajuste. ainda era uma cadeira suficientemente parecida com as outras das crianças normais para nos dar a ilusão de uma certa normalidade. como eu disse, literalmente desfez-se com o peso do pedro. usámo-la até às últimas, foi soldada 3 ou 4 vezes, na esperança de que o pedro entretanto desenvolvesse o processo de marcha autónoma e não fosse preciso uma "verdadeira" cadeira de rodas. mas não. e quando a cadeira se partiu de vez, tivemos que nos render às evidências. o pedro teria que usar uma dessas cadeiras de que nós, um pouco infantilmente, queriamos era distância. a a.p.p.c. emprestou-nos então uma, enquanto não vinha a que tinhamos encomendado para o pedro. feia, usada, vermelha. não podia dar mais nas vistas. talvez por isso, quando a do pedro chegou, até a achámos bonita. em tons de preto e cinzento, era discreta e esteticamente equilibrada. e bem fácil de utilizar e arrumar na mala do carro. é com esta cadeira que ainda hoje o pedro se desloca diariamente. de manhã para a escola, à tarde para casa, em passeios, lá vamos nós. acho que posso afirmar que já não me perturbam minimamente os olhares e os comentários em surdina. e isso faz-me pensar no longo caminho que já percorremos.

7 comentários:

Anónimo disse...

Longo caminho, mas tambem bonito. Pois podermos fazer os nossos caminhos ao lado de quem tanto gostamos, torna o caminho mais bonito.
E apartir de agora ainda melhor, com uma cadeira mais bonita.
Abraço. Pedro

Grilinha disse...

Meu amigo...ainda estou na fase de queres distência delas....não me leves a mal...talvez seja forçada a mudar de ideias...o que tiver de ser...será. Um beijinho e muita independência para o Pedrocas na sua cadeira. Beijo

Anónimo disse...

Pai do Pedro, diga-me com que idade o Pedro começou a usar uma cadeira de rodas mais apetrechada com cintos, embora parecida com as das crianças normais? O peso é importante? Muito Obrigado. Lina.

Anónimo disse...

lina: como vão as coisas? não sei precisar quando o pedro começou, mas aos dois anos já a usava. o peso só é importante, porque ao subir ou descer passeios, degraus, etc., é preciso inclinar a cadeira e a estrutura em tubo de alumínio com o tempo, se a criança for muito pesada, pode partir-se. pelo menos foi o que aconteceu com o pedro.

Maria Romeiras disse...

O peso é muito importante. Convém que a cadeira seja bem adequada ao peso e, mais tarde, à altura. Há bons fabricantes em Portugal e até movimentos de "reciclagem" e manutenção de cadeiras de rodas. Depois passo os contactos. Quando lia a tua história lebrava-me de um grande amigo, meu antigo colega de trabalho, que teve uma sequela de polio em Angola, anos 60. Nada a fazer. Situação carenciada, só veio a ter cadeira já estava na instrução primária, até lá deslocava-se para a escola ao colo dos pais, irmãos ou professora. Foi um excelente aluno. Sempre me contou histórias de cadeiras que se partem. Convém, em fases de maior desgaste e autonomia, ter uma antiga de reserva, minimamente em condições.

Anónimo disse...

Muito obrigado pela informação. A minha sobrinha ainda sai pouco à rua. Mas quando vai para o infantário encontra-se atada a uma cadeira igual aos dos outros meninos. Está quase sempre pendida para a frente ou para o lado. Pois ainda só se equilibra por breves instantes e ainda não se consegue sentar com o apoio das mãos. Cada vez que lá vou por causa do meu filho ( pois têm a mesma idade), fico a pensar na questão da cadeira. Agora é arranjar muita coragem para abordar os pais no sentido de se informarem sobre a conveniência de uma cadeira adequada. A menina tem quase dois anos (21 meses)e é muito alta para a idade e muito pesada, e está quase sempre deitada ou sentada numa cadeirinha de passeio para crianças normais. Muito obrigado por tudo. Um abraço. Lina

Anónimo disse...

Ontem, na reunião com a equipe que atende minha filha no Hospital de Reabilitação, aqui no Brasil, falamos sobre a possibilidade da cadeira de rodas...A fisioterapeuta disse que isso depende de quanto ela vai conseguir andar com o andador e as órteses entre outras coisas... Importante salientar que se fez referência a rejeição dos pais, à cadeira de rodas, logo pensei no que vc escreveu a respeito e então não me senti tão sozinha...
Cláudia