1 mês de existência - reflexões
após um mês de existência e mais de 900 visitas, acho que se impõem algumas reflexões, não só sobre o vida com pedro, mas também sobre os outros blogs sobre a mesma temática: como disse no 1º post, esta ideia germinava já há algum tempo, como necessidade de ter um espaço de desabafo, de partilha com outros pais em situações semelhantes e de "educação" da sociedade em geral. acho que este mês provou-me que pode ser isso tudo e talvez ainda mais.
- como espaço de partilha com outros pais, funciona, mas acho que pode ir mais além, pode-se descer mais ao pormenor, os pequenos truques, as estratégias para ultrapassar pequenos e grandes problemas. foi muito bom descobrir e contactar com outros pais, estabelece-se uma "estranha" solidariedade entre pessoas que não se conhecem fisicamente, acaba por funcionar um pouco como um grupo de auto-ajuda, mas com a diferença de que não estamos num espaço fechado. temos público que não está em situação semelhante e isso leva-nos, mesmo que inconscientemente, a relatar principalmente o melhor e por vezes calar o menos bom. não é fácil expormo-nos, mesmo que tenhamos a "rede" a proteger-nos. por vezes, quando as coisas não estão muito bem, "calamo-nos" talvez isto tenha a ver com o facto de sermos visitados por muita gente dos chamados babyblogs, principalmente mães, que estão a criar filhos normais e que relatam alegremente os fantásticos progressos e gracinhas dos seus rebentos, e tenhamos a necessidade de fazer algo de semelhante. penso que talvez fosse bom partilharmos também os maus momentos... mas em termos gerais tem funcionado, o retorno e o calor humano que temos recebido aqui tem sido muito bom e tem contribuido para instilar forças para continuarmos com a nossa luta.
- como espaço de desabafo, não tem funcionado muito bem. talvez a exposição pública o iniba um pouco, apesar do pretenso anonimato por que muitos de nós optamos. sei por experiência própria que o dia-a-dia não é fácil nas nossas situações, mas ainda não "ouvi" ninguém "dizer" pura e simplesmente, "hoje estou na merda, parece que tudo correu mal". dizem os psicólogos que nos estudam (sim, porque nós somos objectos de estudo como pessoas em risco psicológico), que mesmo passados os primeiros tempos mais problemáticos, o nosso precurso é feito com altos e baixos, caímos, levantamo-nos, recaímos, voltamos a levantar-nos. não temos que constantemente armarmo-nos em fortes, temos que vivenciar todo o ciclo, não serve de nada queimar etapas, enterrar as mágoas e as inseguranças num buraco bem fundo.
- como espaço de "educação" da sociedade em geral, é difícil fazer o balanço. a maioria das pessoas que nos visitam já estão sensibilizadas para estas questões. mas algumas não. são apanhadas de surpresa, e é nessas que eu espero ter algum impacto. se contribuirmos para que alguém se lembre, ao deixar o carro estacionado em cima dum passeio, que pode estar a impedir ou dificultar a passagem de um cidadão com deficiência, ou que alguém, ao planear um espaço, se lembre da questão das acessibilidades, já não será mau.
- por fim um desabafo. esperava, à partida, ter mais "público" masculino. raros têm sido os homens a manifestarem-se. quererá isto dizer que os homens andam completamente arredados destas questões? espero que não...
são apenas algumas reflexões, algumas questões que se levantam no meu espírito inquieto... não posso deixar de agradecer a todos os que nos visitaram, tendo-se manifestado ou não. tem sido bom estabelecer relações com algumas pessoas, e não desfazendo dos outros, quero salientar e saudar a grilinha, a cloinca, a lobita mãe, a maria, a memorex e a silencebox. obrigado a todos.
7 comentários:
Fazes duas análises particularmente importantes: a da inibição de desabafar realmente, sinceramente (o "hoje estou na merda") porque a tendência é para levarmos com comentários de consolo (normalmente a última coisa que queremos ler) e a da diferença de procedimentos do género masculino e feminino. Contacto mais com mães que com pais, poucos são os pais que assumem dificuldades dos seus filhos, em particular de filhos rapazes, aí o teu blog é exemplar. Conheço muitas situações de abandono, de separação, de negação. Generalizações são sempre perigosas e injustas, mas estatísticas podem ajudar a consciencializar um problema real. Falar ajuda, sempre. Parabéns, portanto, pelo mês de blog, pelo mês de coragem.
Obrigado papás do Pedro. TEM SIDO MUITO BOM ACOMPANHAR-VOS. Continuaremos. Mandei-vos um mail. Espero que tenham recebido.
Hoje descobri o vosso blog...e tenho-me deliciado nas vossas palavras que descrevem o turbilhão de sentimentos dos pais com meninos com problemas. Vou acompanhar-vos a partir de hoje...e um bem haja por este fantástico blog.
Patrícia
Mãe do Rodrigo
Tem sido muito bom acompanhar a vida do Pedrito e dos pais, tenho aprendido muito com vocês e partilho muito das vossas ideias, por vezes não é fácil, mas fazendo parte deste grupo tem sido muito bom, muito gratificante e enriquecedor, por isso o meu obrigado por existirem e partilharem a vossa experiência connosco. Tudo de bom
Embora faça parte do público feminino (geral), tenho aprendido convosco. As mudanças nas pessoas não são habitualmente questões lineares. Às vezes é como uma semente, que só germina nas condições ideais. Mas para que germine tem de haver semente. Por isso, o mais provável é que o impacto deste blog seja substimado. Abraços e continuem a mandar sementes ;)!
Eu é que vos agradeço por me terem dado a oportunidade de vos conhecer, claro virtualmente.
:)
Carinhosamente Memorex.
Esta questão da distância encurtada pela "net" é pertinente. Quando soube que minha filha era portadora de PC, passei horas fuçando na internet, pesquisando, lendo, estudando e achei seu blog, que me foi de imprescindiível importância!
Realmente é difícil expressar "hoje estou uma merda", acredito que pela sensação de vigilância constante, da necessidade que eles tem e por precisarem de amparo constante, etc...
Acho que me sinto culpada em me achar um lixo, acredito que só ficamos cansados, prefiro pensar assimm...
Enfim eu te escrevo do Brasil, gosto de visitá-lo e saber de Pedrinho, pois sua relação com ele espelha a minha com ela, minha princesa!
Cláudia
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