terça-feira, novembro 14, 2006

outros amigos

domingo, tarde solarenga, depois do almoço, o pedro dorme a "siesta", a irmã do pedro estuda para os testes da semana que começa, o irmão do pedro está algures com os amigos, a mãedopedro saíu para preparar as aulas da semana que começa, porque em casa é difícil a concentração. recebo a visita do p. e da i., tomamos café. o p. é meu amigo desde os bancos da escola, não temos necessidade de estarmos sempre juntos, mas sabemos que quando precisamos um do outro, o outro estará lá. foi a primeira pessoa a quem telefonei aquando da morte da minha mãe. a i., é mais "habitueé" cá de casa, embora seja uma amiga mais recente. falamos disto e daquilo e entretanto o pedro acorda. vou buscá-lo ao quarto. quando entra na cozinha, faz imediatamente o nome gestual da i. e dando pulos de alegria lança-se nos seus braços. depois olha para o p. e sorri-lhe também. relembro-lhe o nome gestual que inventámos para o p., e ele repete-o. agarra na mão do p. e arrasta-o, no seu passo atabalhoado até à sala, onde ainda estão no chão os brinquedos com que tinha estado a brincar antes do almoço. faz para o p. o gesto de sentar e o de brincar. sentamo-nos todos no chão da sala e o pedro apanha uma lata com brinquedos. não a consegue abrir sozinho e pede a ajuda do p.. a lata contém miniaturas de animais. o pedro escolhe imediatamente os cavalinhos que adora (efeitos da hipoterapia?) e faz o gesto correspondente. p. não sabe muita língua gestual, apenas alguns gestos que aprendeu cá em casa, i. fez questão de aprender língua gestual para poder comunicar com o pedro, foi nossa colega quando nós iniciámos as aulas, embora depois tenha interrompido, ocupada pelos afazeres vários da vida. brincamos um bocado com os animais em miniatura e eu, o pedro e a i. vamos ensinando ao p. os diversos gestos, gato, cão, girafa, porco. passamos para os carrinhos, a tarde vai decorrendo calma, a janela aberta para a varanda, o sol a entrar. conto ao p. os progressos do pedro, as histórias ao deitar, a integração na escola, falamos de tecnologias, da história da operação. vamos para a varanda, jogamos à bola com o pedro, p. comenta os avanços do pedro na autonomia da marcha. falamos dos últimos filmes que vimos, dos últimos discos que ouvimos, o sol vai baixando lentamente, ouvem-se as gargalhadas do pedro às voltas com a bola e com as pequenas caminhadas sem apoio. p. e i. têm que se ir embora, eu e o pedro de mãos dadas acompanhamo-los à porta e ficamos a dizer adeus enquanto eles saem e desaparecem na esquina. p. diz-me ainda que tenho que cortar a relva e eu digo-lhe, pois, não tenho tido tempo...
lembro-me então do post "amigos" que tinha escrito no dia anterior.
hoje, dia de aulas de língua gestual, i. apresentou-se para retomar a sua aprendizagem.

4 comentários:

Grilinha disse...

Os amigos, de sempre, estão connosco...porém, por vezes não sabem como se aproximar...têm medo de um desconhecido...
Eu sempre tive um primo surdo. Para mim, sempre foi normalissimo contactar com pessoas surdas...já com paralisia cerebral....confesso, que nem sabia bem o que isso implicava e tinha medo. Medo?! Sim, de não saber lidar com elas...de dizer alguma coisa que ofendesse...sei lá. Tontices. Estupidez, mesmo. Perder o medo da diferença é importante. Os nossos filhos contribuem para isso, para mais quando são sociáveis e carinhosos. Adorei a forma de contares o teu fim de semana...quase me senti por aí ! Um beijo amigo para a familia.

Anónimo disse...

a "grilinha" tocou "no ponto". O "Medo" bloqueia tudo e todos.

... não te preocupes, os medos hão-de ser ultrapassados.

e embora seja uma frase feita, fica com a certeza de que :
"AMIGOS SÃO COMO AS ESTRELAS, MESMO QUE NÃO SE VEJAM TEMOS SEMPRE A CERTEZA DE QUE ESTÃO PRESENTES"

um grande beijo pra todos

Anónimo disse...

Ola,
Descreveste com muito carinho este encontro de amigos.
O desconhecido para algumas pessoas
faz haver um distanciamento entre os melhores amigos.Infelizmente,muitos dos meus amigos se distanciaram por não conseguir transpor seus tabus.Mas,alguns ficaram,e são verdadeiros companheiros de uma caminhada intensa.
O Pedro é da idade da minha filha.
E que idade mais linda!Não?!
Desejo a cada dia muitas vitorias neste cantinho.Vou voltar!
Um grande abraço para a família.
Nani e Gigi.

cloinca disse...

Isso é Amizade... daquela com A grande!!!
Eu e o meu marido, ainda antes de sabermos os problemas do André, frequentámos aulas de Língua gestual aqui na Associação de Surdos do Porto... só que o André começou a ter tantos problemas, que tivemos que deixar. O meu marido ainda há uns dias me falava em retomar as aulas... ele gostava de dar formação de inform´tica a meninos surdos...
Eu, bem... sempre tive amigos surdos, um namorado até... acho realmente que chegou a altura de voltar às aulas também, reiniciar já num próximo curso!!
:)))
Fica aqui o meu beijinho bem grande para vocês!!!